On The Rocks | Review
Dirigido por Sofia Coppola, On The Rocks, está disponível na Apple Tv+

Entre erros e acertos, há anos Sofia Coppola vem construindo uma sólida carreira como diretora e marcando o seu nome na história do cinema. Depois de filmes como O Estranho que Nós Amamos, A Very Murray Christmas, Bling Ring: A Gangue de Hollywood, e os maravilhosos Encontros e Desencontros e Maria Antonieta, ela está de volta com On The Rocks.
Mas será que On The Rocks é mais um clássico de histórias de amor que Sofia sabe fazer muito bem? Bom, não mesmo, mas tudo bem.
On The Rocks conta a história de Laura (Rashida Jones), uma jovem mulher casada, com duas filhas que após um estranho acontecimento começa a acreditar que o seu marido, Dean (Marlon Wayans), está tendo um caso. Laura acredita cada vez mais que está sendo traída e quando está prestes a ser totalmente consumida por essa possibilidade e imaginar a sua vida amorosa ruir, reencontra o seu pai, o playboy Felix (Bill Murray), que oferece ajuda com seus métodos nada comuns para descobrir se a traição é real ou não. Esse reencontro acaba se tornando muito intenso e a aventura para descobrir a veracidade da infidelidade de seu marido acaba se tornando também uma forma de pai e filha se reaproximarem.
On The Rocks é tudo o que a sua sinopse demonstra ser: um filme simples, com uma história daquelas boas para acompanhar e esquecer do mundo. Por mais que não se encaixe muito bem como um “romance”, ele fala sobre amor, tanto o de um casal que está à beira de uma crise no casamento, mas que ainda quer lutar para recuperar o que era antes, quanto a reconexão entre um pai que não sabe muito bem o que é ser isso e sua filha que não o enxerga mais como um herói ou algo do tipo.
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Assim, a obra não tenta ser nada além desta comédia romântica sobre a vida, sobre nada e ao mesmo tempo sobre tudo. Isso fica muito claro logo nos seus primeiros 20 minutos, em que o filme se foca em mostrar a rotina da protagonista, justamente para colocar ao público que a personagem é uma mulher adulta comum, que se desdobra em 3 para dar atenção à sua família, a si própria e ao seu amor.
On The rocks possui um início bem lento, que não chega a deixar a história entediante, mas faz isso justamente para conhecermos mais a protagonista e nos colocarmos no lugar dela. As coisas só começam a se movimentar quando o elemento chave de Sofia Coppola aparece: o excelentíssimo Bill Murray.
Murray dispensa apresentações com seu estilo de atuar bem “Adam Sandler”, sendo a mesma coisa de sempre, nada impressionante, mas que nos ganha fácil pelo seu grande carisma. Agora, com carinha de vovô fofinho, Bill parece ter ficado ainda mais carismático, o que é ótimo e funciona perfeitamente para o seu personagem, quase como se Sofia tivesse escrito o personagem para o ator (o que possivelmente fez).
Inclusive, Bill Murray está tão “Bill Murray” em On The Rocks, que quase se pode dizer que é uma continuação de Encontros e Desencontros, já que Felix tem a mesma personalidade que Bob Harris tinha no filme de 2003. A semelhança é grande: Felix é engraçado por ser quem é, e não por alguma tirada engraçada, além de demostrar muitas vezes as outras camadas do personagem, como a solidão causada pela falta de perspicácia em demonstrar afeto para a sua própria filha.
Mas engana-se quem acha que isto quer dizer que Bill leva o filme nas costas, pois a história nem funcionária se fosse assim. Apesar do ator ser um elemento necessário para movimentar mais a trama, e por consequência a vida da protagonista, Rashida Jones ainda é o brilho de On The Rocks.
Rashida é uma atriz fantástica, que já vem mostrando o seu talento há muito tempo, mas que mesmo assim nunca recebeu o seu mérito por isso. Em On The Rocks, Rashida segura o seu protagonismo muito bem, com carisma suficiente para não deixar Murray ganhar o filme, ao mesmo tempo conseguindo nos passar toda a emoção que a sua personagem precisa para a história não deixar transparecer o que é: um grande “White People Problems” (o que, apesar de tudo, não é um problema).

É claro que tudo isso é muito bem conduzido graças a Sofia Coppola, que é mestra em dirigir esses filmes sobre “pessoas comuns” vivendo um episódio atípico em suas vidas comuns. É muito gostoso de ver como a diretora consegue construir muito bem os seus personagens sem conduzir a história para algo muito grandioso.
Além disso, Sofia ainda consegue trazer alguns momentos que nos remetem muito a Encontros e Desencontros, que é quando utiliza a cidade a sua volta para também participar da história e passar um pouco mais daquele sufoco que a rotina nos causa.
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Por últimos, não podemos deixar de citar um ponto que ajuda muito a construir esse clima de “filmes gostosos para se desligar do mundo”, que é a sua trilha sonora, trazendo aquele jazz clássico que sempre toca nesses típicos filmes e que estão presentes em qualquer obra do cancelado Woody Allen. É gostoso e é exatamente o tipo de trilha sonora que se espera ouvir em um filme como esse.
On The Rocks não chega perto de Encontros e Desencontros e muito menos de ser o filme do ano. Aliás, a obra nem tenta ser grande, pois é bem esquecível no final das contas. Mas ainda bem! Pois são essas histórias comuns e beirando ao “bobo de ser humano classe média comum tem um problema” que estamos precisando ver no cinema de 2020.
Título original: On The Rocks
Ano: 2020
Nacionalidade: EUA
Gênero: Drama
Duração: 1h41
Direção: Mike Flanagan
Elenco: Bill Murray, Rashida Jones, Marlon Wayans, Jenny Slate
Distribuidora: Netflix
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Créditos:
- Texto: Pedro Henrique
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